segunda-feira, 12 de julho de 2010

you send me

f: você me cresce.
m: você me sabe.
f: você me encaixa.
m: você me acha.
f: você me acontece.
m: você me nada.
sono é masculino.
medo é feminino.
[em mim]

você me descobre.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

à Laura

L,
escrevo para dar as notícias que me pediu.
Andei por fora, aprendendo a ocupar cada lugar que é meu. Estive no Central Park de bicicleta. Lá senti frio nas mãos como nunca. Percebi que lã é como o amor. Precisei muito dela.

Também aprendi a dançar. Foi quando reparei que meu pé pisando no chão era novo. Ensaiei passos no espelho: saias suspensas nos joelhos, dedos primeiro, calcanhar depois. Ri à toa.

Passei por poucas e boas aqui no meu quarto. Mas veja só, o pior agora é a fresta de luz que me acorda todos os dias. Bordo uma cortina faz um ano, mas estou ocupada demais para a vida doméstica. Ando pensando em mudar coisas de lugar. Talvez as cores não sejam estas. Elas se confundem demais com o cheiro úmido da montanha. Preciso ocupá-las para tirar o mofo.

A vida afora corre veloz e me espanta. Não dou conta dos convites que chegam pelo correio. Outro dia abri uma carta errada e agradeci. Menos uma. Gosto do que me mantém aqui. Por isso comprei flores. Sei de sua preferência por plantas a flores. Mas as flores me lembram mais rapidamente que a vida é curta. Elas murcham quando as esqueço. E não estou podendo esquecer: preciso de vida lembrando que é preciso regar.

Com carinho,
C.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

autoconhecimento 2

o ar
traz tanta coisa
que só
respirando
para sentir.
e eu,
que faltava
respirar,
descobri
que ainda
não nasci.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

autoconhecimento

A flor da pele
a epiderme, a derme
e o que vem depois dela. O corpo dentro, alma, eu infinito.
A casca que descasca tem outra embaixo.
A nova. Ela também vai des.
Descobri o que tem embaixo.
Embaixo ainda é nova.
E velha: a flor da pele.
Ave fosse, estaria trocando penas
para voar.

quarta-feira, 4 de março de 2009

o velho

o sambar tímido
dos dedos
do motorista
contra minha cólica
de suor frio.
a velhice deve ser
quebradiça,
meus póros
não a imaginam

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

falta II

vou derrubar as paredes explodir o teto abrir uma janela bem
aqui no meio. cansei de empilhar sonhos e andar de joelhos.

domingo, 16 de novembro de 2008

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

do ovário


o

ovo
óvulo

também

ovni


quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Me perdoa, Luther?

Eu tenho um sonho, correr o Quênia e shootar Butão
Eu tenho um sonho, tocar a mão
Eu tenho um sonho, dormir agora e acordar em dezembro
Eu tenho um sonho, receber um aumento
Eu tenho um sonho, Chicago now
Eu tenho um sonho, vkrasana tomorrow
Eu tenho um sonho, e vocês estão comigo
Eu tenho um sonho que rima com ré
Eu tenho um sonho que não tenho fome
Eu tenho um sonho que é de seda
Eu tenho um sonho que eu não lembro
Eu tenho um sonho que eu te esqueço
Eu tenho um sonho pesadelo
Eu tenho um sonho americano
Eu tenho um sonho angolano
Eu tenho um sonho que vou escrever quando acordar
Eu tenho um sonho que a vida vai demorar

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

domingo, 2 de novembro de 2008

compose

compose
....................... wall
............................ in blank

....................................... black
....................................... cause

......... I read
............. the news

today

vidrada

UM QUADRO NA PAREDE
UMA JANELA PRA LONGE
UM SEGUNDO DE ONTEM
UMA FOTO, UMA TELA
ME LEVA

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

cinco e doze

o dia se demora
quando se está
fora de lugar

me doso de café
para apressar

acho que ando
com pressa
falo muito dela

anseio de si
fora daqui

me aconselha assim:
é preciso dosar,
é preciso dosar.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

desprendimento

desprendimento
desprendiment
desprend i ment
desprend me
desprend
desp end
de end

domingo, 19 de outubro de 2008

Um som


UM SOM
EM NÓS
CALA
O QUE
TEMOS
DE NÓ (S)


(da resolução de conflitos)

Analogias IV


teu riso
ria o rio
que passava
na casa
de manoel

Analogias III













O VÔO DA AVE

AVOOU
MINHA VOZ

Analogias II

Fome de presença
é o vazio que
cola: estômago
ao coração

Analogias

Tamarindo que dá em pedra
é o mesmo que:
água doce que dá no céu

sábado, 18 de outubro de 2008

Escapulário

















Colo teu rosto

santo
enquadrado
protetor

carrego
pescoço em cor
te espelho
mundo fora
te reflexo
mundo dentro

Laboratório II















Luz
exposura
dura para
negativo -
breu de prata
química inscrita
cegueira

clareia.

Laboratório

















à poesia
revelador
à impressão
fixador
à imagem
banho de
água fria

Trava-língua

não travo mais trégua triste por um triz de língua
express ão de ser minhas ex-posições.

domingo, 12 de outubro de 2008

Senhora

aqui estou novamente
em meu berço preferido
arrancando com cuidado
pele dos lábios
descamando cutícula
futucando ferida
inventando razões
sorteando anfitriões
dormi acordada
na vigília
aceitei sem hesitar minha sentença
e embarquei no primeiro apito
o primeiro ato de uma
navelouca rede moinho.
veneno que paralisa
é medo correndo solto
antídoto fracasso.
visgo de sapo, poça de piche
é tudo buraco negro.
soterra no caos das vaidades
de aforismos jurados de verdade
falsa modéstia vertiginosa
arranha até queimar minha voz
por ora não vou te mandar embora
estás convidada a ficar,
tristeza senhora.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

domingo, 5 de outubro de 2008

feminino

para menta e amêndoa

caminhos em passos largos
mais velozes que calendário
movimento gera
movimento.
física pura, comenta.
inércia é a de quem rodopia na mesmice tentadora
mais vale o mito castrado
masculino fraco
pra ver
o dia amanhecer

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

terça-feira, 30 de setembro de 2008

desenredo em conta-gotas
















perdoe-se.
aceita sua condição deserta inóspita para honrar regar as plantas em conta-gotas. nó desenrola-se às lágrimas em rolo de lã aumentado, na torção de braços e pernas em preparação para o desequilíbrio. valoriza o desequilíbrio como momento de loucura - desvia. e aguenta em tronco. desabará como que por serra elétrica: a reprovação é força de vontade rasgada. cíclica no eterno retorno desatado em sina. a condição de ser o que se é e o desespero de enxergar-se de fora com olhos de consciência alheia, escamoteada em enredo com princípio, meio e fim. "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".

foto: fernando de noronha, 2006

sábado, 27 de setembro de 2008

à cubana



El alma lúgrube grita:
"!Mujer, maldita mujer!"
!No sé yo quién pueda ser
entre las dos la maldita!


poema: josé martí, 1891
vídeo: havana, 2007

terça-feira, 23 de setembro de 2008

seguidora de Pollock em peregrinação a Macondo
















vai!
corre e destrói
mas não olha atrás
há um rastro de raiva sorrindo
prestes a nascer

claire na hora de almoço

Deus sabe o que faz quando traz a primavera

domingo, 21 de setembro de 2008

amargarida















criança, sonhei que tinha margaridas na barriga. brotavam de terra sobre estômago. eram muitas e brancas e ainda hoje me arrepiam os braços.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

dia sim, dia não

Dia sim, dia não, acordava e regava as plantas. Sentia-se viva naquele ato. Via na simplicidade o inteiro. Entregava-se à casa de areia que erguera sobre a cegueira. Preferiu fechar os olhos a aprender que cada folha tem seu tempo. Mecânica, reconheceu-se vazia quando percebeu do alto que seus vasos sumiam na mata. E que só as palmeiras imperiais chegam perto do céu. Seca, rasgou, furou, amarelou, quebrou...Acordou no dia não e lembrou que graveto é bom para fazer fogueira.