L,
escrevo para dar as notícias que me pediu.
Andei por fora, aprendendo a ocupar cada lugar que é meu. Estive no Central Park de bicicleta. Lá senti frio nas mãos como nunca. Percebi que lã é como o amor. Precisei muito dela.
Também aprendi a dançar. Foi quando reparei que meu pé pisando no chão era novo. Ensaiei passos no espelho: saias suspensas nos joelhos, dedos primeiro, calcanhar depois. Ri à toa.escrevo para dar as notícias que me pediu.
Andei por fora, aprendendo a ocupar cada lugar que é meu. Estive no Central Park de bicicleta. Lá senti frio nas mãos como nunca. Percebi que lã é como o amor. Precisei muito dela.
Passei por poucas e boas aqui no meu quarto. Mas veja só, o pior agora é a fresta de luz que me acorda todos os dias. Bordo uma cortina faz um ano, mas estou ocupada demais para a vida doméstica. Ando pensando em mudar coisas de lugar. Talvez as cores não sejam estas. Elas se confundem demais com o cheiro úmido da montanha. Preciso ocupá-las para tirar o mofo.
A vida afora corre veloz e me espanta. Não dou conta dos convites que chegam pelo correio. Outro dia abri uma carta errada e agradeci. Menos uma. Gosto do que me mantém aqui. Por isso comprei flores. Sei de sua preferência por plantas a flores. Mas as flores me lembram mais rapidamente que a vida é curta. Elas murcham quando as esqueço. E não estou podendo esquecer: preciso de vida lembrando que é preciso regar.
Com carinho,
C.
2 comentários:
eu também preciso... viva a vida que sabe se lembrar de ser vivida!
minha memória é das mais convenientes: esquece tudo o que é importante. acho que ando precisando esquecer e daí regar plantas. (deixo as flores por hora...)
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